Saiba o que Dilma vai realmente fazer no ‘Banco dos Brics’ e para que serve a instituição

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Como presidente do NBD, ela aprovará projetos junto com o colegiado de diretores da instituição. Créditos: Marcello Casal Jr./ Agência Brasil

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) tomou posse nesta quinta-feira (13) como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como “banco dos Brics” (bloco econômico inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).  Eleita para o cargo no último dia 24, a cerimônia de posse ocorreu hoje em Xangai, onde Dilma já está vivendo, e contou com a presença do presidente Lula (PT), que está no país para realizar encontros com dirigentes chineses.

Em seu discurso, Dilma afirmou que o NBD captará recursos no mercado mundial em diferentes moedas e financiará projetos com moedas locais, buscando privilegiar os mercados domésticos e evitar prejuízos com variações cambiais.

“Assumir a presidência do NBD é, sem dúvida, uma grande oportunidade de fazer mais para os países dos Brics, mas não somente para os seus membros, mas também para os países emergentes e em desenvolvimento”, afirmou. O mandato de Dilma como presidente do banco vai até julho de 2025.

O que faz o NBD?

O banco dos Brics financia projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável dos países que fazem parte da instituição. Originalmente ele foi formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Depois, Bangladesh, Egito, Emirados Árabes Unidos e Uruguai passaram a fazer parte da instituição.

“O Novo Banco de Desenvolvimento atua com uma governança parecida a do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e Banco de Desenvolvimento da América Latina. Os projetos são avaliados por comitês técnicos, que emitem relatórios de viabilidade, risco e habilitação segundo as normas de operação dos bancos. A presidente da instituição decide a aprovação dos projetos junto com o colegiado de diretores. Ela não tem alçada para decidir sozinha”, afirma Antonio Prado, economista e conselheiro do Corecon-SP.

A autoridade máxima do banco é o “Board of Governors” (conselho de governadores), formado pelos ministros da Fazenda dos Estados Membros. Segundo Prado, Dilma pode ter um papel importante para ampliar o número de membros do banco, o que é previsto desde a sua fundação.

Eleição e mudança para a China

Dilma foi indicada ao cargo pelo governo Lula e foi eleita pelo conselho de governadores do banco. A ex-presidente foi candidata única e os presidentes da instituição costumam ser eleitos por unanimidade. Dilma assume o lugar de Marcos Troyjo, ex-integrante da equipe do ex-ministro da Economia Paulo Guedes. O mandato é rotativo e a saída de Troyjo ocorreu de comum acordo com o atual governo brasileiro.

No cargo de liderança do banco, a ex-presidente deverá receber salário de aproximadamente R$ 295 mil mensais, remuneração no mesmo patamar de outros bancos multilaterais, conforme executivos da instituição. O NBD não divulga de maneira discriminada o salário do presidente em atuação. Em sua publicação anual, a instituição indica a remuneração direcionada a todos os membros do quadro que compõem a presidência (presidente e cinco vice-presidentes).

Como a sede do banco encontra-se em Xangai, Dilma irá morar na cidade, um centro financeiro global. O banco oferece aos seus funcionários vários benefícios, como assistência médica e educacional para filhos, auxílio viagem para o país de origem, subsídios para mudança em caso de contratação e desligamento e transporte aéreo.

Currículo de Dilma

Dilma, que durante a juventude integrou a luta armada contra a ditadura militar, foi a primeira mulher a assumir a presidência do Brasil, eleita em 2010 e reeleita em 2014. Sua formação acadêmica é na área de Ciências Econômicas e ocupou vários cargos públicos desde o início de sua carreira política institucional.

Ela foi secretária da Fazenda da prefeitura de Porto Alegre; diretora-geral da Câmara dos Vereadores de Porto Alegre; presidente da Fundação de Economia e Estatística; e secretária estadual de Energia, Minas e Comunicação do Rio Grande do Sul por duas vezes.

A ex-presidente fez parte da equipe de transição de governo que preparou as ações para a posse de Lula na presidência. Em 2003 Dilma assumiu o cargo de ministra de Minas e Energia e, em 2005, assumiu a chefia da Casa Civil, onde permaneceu até 30 de março de 2010, quando saiu dela para fazer a sua campanha presidencial.

Gestão Dilma

É consenso entre os especialistas consultados pela IstoÉ Dinheiro que Dilma está habilitada para o cargo. “Por ter sido eleita duas vezes como presidente do Brasil, é alguém que conhece de perto a realidade do povo brasileiro e que já viajou por vários países e conhece os países em desenvolvimento, foco do banco”, diz Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília (FPMB).

Porém, para Coimbra, é difícil dizer como será a sua gestão. “Não podemos comparar a gestão dela no NBD, que é um banco de fomento e desenvolvimento, fazendo um paralelo com o governo dela. Um banco de fomento tem como intuito gastar dinheiro em projetos de infraestrutura em países em desenvolvimento e como presidente ela precisava ter outras gestões (política, gastos do governo etc.)”.

“Devemos também considerar que ela foi ministra de Minas e Energia e a principal gestora do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) como ministra da Casa Civil, o que exigia visão estratégica na área de infraestrutura e capacidade de monitoramento dos projetos. Eram centenas de projetos em várias áreas em que o banco do Brics atua, principalmente energia e transportes”, acrescenta Prado.

Entenda o caso

A ex-presidenta Dilma Rousseff foi a escolhida para chefiar o Novo Banco de Desenvolvimento, o chamado Banco dos Brics. A instituição deseja ser uma nova saída, fora os organismos tradicionais, para fomentar o desenvolvimento dos países que fazem parte do grupo.