Conexão entre planejamento e execução

Roberto Mosquera, especialista em modelos de gestão. Créditos: divulgação

* Matéria publicada na Academia de Líderes de Educação, cujo acesso é limitado apenas aos membros

Escolas, colégios e universidades possuem uma rotina dinâmica e extremamente viva. Elas são empresas, mas possuem peculiaridades próprias que as tornam diferentes de outras, exigindo por parte dos donos, gestores ou mantenedores uma capacidade maior de lidar com imprevisibilidades

Diferentemente de organizações onde é possível ter uma rotina mais previsível, instituições de ensino precisam lidar não apenas com questões administrativas, mas também com contingências relacionadas ao comportamento dos alunos, dos professores, funcionários e até dos pais dos alunos.

Junto a essa característica própria, existe uma velha crença de que resultados na educação são apenas alcançados a longo prazo e que qualquer ação realizada hoje só irá gerar efeitos daqui a muitos anos.

É para resolver e desmistificar estas questões que existe o planejamento estratégico. A sua principal função é criar um plano de curto e longo prazo com metas que possam ser cumpridas e acompanhadas por meio de indicadores e critérios de avaliação de resultados visando alcançar os objetivos da empresa.

“O planejamento estratégico não é algo novo, porém é pouco explorado. Ele é simples, mas sem ser simplista, ou seja, é fácil de se fazer, mas é extremamente importante para nortear as ações dentro de uma escola”, explica Roberto Mosquera, especialista em modelos de gestão, desenvolvimento de liderança, transformação organizacional e adoção de “mindset” ágil em equipes, áreas e empresas, e professor da Casa Educação.

“Esse modelo de planejamento é muito importante para instituições de ensino, sejam elas grandes ou pequenas, privadas ou públicas, porque permite, primeiramente, criar viabilidade financeira e econômica ao negócio e, consequentemente, dar acesso às crianças a uma educação de melhor qualidade, para que, futuramente, tenhamos um país melhor”, sintetiza Mosquera.

Primeiros passos

Uma organização precisa, antes de qualquer coisa, definir os seus objetivos. Sem esta definição clara de qual é o seu propósito torna-se muito difícil que ela consiga prosperar. Portanto, para começar a se produzir um planejamento estratégico uma instituição de ensino precisa determinar qual é o seu propósito como escola.

“Um gestor deve pensar: ‘Meu objetivo é fazer com que os meus alunos entrem em medicina na USP ou é dar acesso a um ensino mínimo de qualidade para uma população de renda média ou baixa’? A partir desses esclarecimentos começa a ser possível abrir caminhos e iniciar um plano estratégico para se buscar resultados de curto e de longo prazo”, diz o especialista.

Portanto, a primeira etapa de um planejamento é definir claramente qual o objetivo da organização de ensino. Com isso, passa-se à seguinte fase que consiste em determinar quais são os objetivos e os resultados que se deseja alcançar em um horizonte de três a quatro anos. Após isso, define-se o que se deseja alcançar em um ano e, consequentemente, que ações, iniciativas e investimentos devem ser feitos para alcançar esses resultados no período definido.

Porém, embora seja um processo relativamente simples, ele encontra barreiras na cultura organizacional vigente de resistência ao planejamento e ao controle de processos. O ambiente da educação, por ser extremamente dinâmico, acaba muitas vezes fazendo com que os profissionais (direção da escola, mantenedores etc.) sejam “engolidos” pelo dia a dia caótico e deixem de lado os planos feitos para priorizar as demandas cotidianas.

“Eu chamo isso até de ‘crença limitante’, porque ela acaba limitando a evolução das escolas. Isso tem gerado um movimento, que já acontece há alguns anos, de grandes grupos estarem comprando escolas e colégios menores justamente devido à falta de gestão de indicadores, falta de recursos econômicos ou até pela falta de ambição do gestor, o que cria uma grande oportunidade de se fazer negócio”, analisa Mosquera.

Principais indicadores e resultados

O planejamento estratégico muitas vezes esbarra na falta de cultura de gestão por indicadores. Por isso, é preciso avaliar quais são os KPIs (“Key Performance Indicator”, em inglês, ou “indicadores-chave de desempenho”) mais adequados a serem utilizados por cada instituição diante dos seus objetivos e da sua realidade.

“As escolas de alta performance observam as notas do Enem e dos simulados que os alunos fazem ao longo da sua jornada. Outros exemplos de indicadores são o volume de lição de casa, medido em minutos ou horas; a quantidade de alunos abaixo da média; e a quantidade de ocorrências negativas que os alunos têm”, afirma o especialista em gestão.

Já no caso de escolas públicas, explica ele, avalia-se a quantidade de faltas, tanto do professor quanto do aluno; o percentual de reprovações; e a participação de alunos no Enem. Em escolas públicas, o percentual de alunos que faz o Enem, entra numa universidade ou que participa de olimpíadas acadêmicas é muito pequeno.

“Se estivermos falando de uma escola privada pequena que tem fôlego, e que o gestor ou o dono possui a ambição de fazê-la crescer, além de definir qual é o objetivo dessa escola dentro do seu bairro, ela terá que olhar tanto para os seus indicadores internos (notas das provas, etc.), quanto para os indicadores externos para avaliar se a qualidade do seu ensino está equiparada à de outras instituições e ao que o dono quer para a escola”, explica.

Esses indicadores devem estar focados, por sua vez, em resultados, que, segundo o especialista, hoje se resumem em três grandes pilares no campo da educação. “Existe o resultado quantitativo, fruto da performance acadêmica do aluno em termos de notas, do resultado em provas externas, vestibulares etc. Outro pilar importante é a evolução socioemocional, ou seja, o quanto o aluno consegue ter equilíbrio emocional na hora de fazer uma prova”, esclarece.

O terceiro pilar é o comportamental, que consiste na auto regulação e na disciplina do aluno, que envolve o costume de estudar todo dia um pouco, fazer a lição de casa, prestar atenção em aula e fazer brincadeiras no momento certo, por exemplo.

Mas o que diferencia, portanto, uma escola que alcança bons resultados de uma que não consegue? Mosquera responde: “É ter uma conexão muito próxima entre o planejamento e a execução. Esse é o grande ponto. Hoje, na grande maioria das escolas, a execução é pautada pelas emergências do dia a dia. No momento em que uma escola define um bom planejamento, qual o seu propósito, objetivos, planeja quais ações vai executar e tem disciplina, isso faz com que ela evolua independentemente dos resultados que deseja alcançar”.