Brasileiros estão endividados, mas otimistas com futuro da economia, mostra pesquisa

Cenário econômico nacional contribui para o otimismo das famílias, que esperam que 2023 será melhor do que 2022. Crédito: Mikhail Nilov/Pexels

Mais da metade (51%) dos brasileiros se declara endividada, mas em todas as regiões é majoritária a parcela que acredita na diminuição do endividamento em 2023, revela pesquisa “Radar Febraban Regional” feita pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e Ipespe em junho deste ano.

Resumo

  • Mais da metade (51%) dos brasileiros se declara endividada, mas a maioria acredita que o endividamento diminuirá em 2023;
  • A expectativa sobre o país para o restante de 2023 é positiva, com 41% acreditando que está melhor do que no ano passado e 53% achando que ainda vai melhorar esse ano;
  • O Nordeste registra os percentuais mais expressivos de percepção de melhora (48%) e expectativa positiva (59%);
  • O otimismo não estaria na expectativa de queda da taxa Selic, mas no crescimento econômico e na melhora das perspectivas de emprego e renda;
  • Saúde, emprego, renda e educação são as principais prioridades das famílias em todas as regiões do país.

De acordo com o estudo, a expectativa sobre o país no restante de 2023 é melhor do que a avaliação do momento atual: 41% dos brasileiros acreditam que o país está melhor do que no ano passado e 53% acham que ainda vai melhorar esse ano. Observando o comportamento das regiões, é no Nordeste que se registram os percentuais mais expressivos de percepção de melhora (48%) e de expectativa positiva (59%).

“O nível do endividamento não é tão assustador. O problema no Brasil é que mesmo uma dívida pequena em relação à renda tende a ter um custo de taxa de juros muito alto. Nesse sentido, o otimismo não estaria na expectativa de queda da taxa Selic, pois o custo do crédito é muito superior”, explica Josilmar Cordenonssi, professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

É importante ressaltar que estar endividado não significa estar inadimplente, situação que ocorre quando o indivíduo deve, mas não consegue pagar as suas dívidas. O estudo foi feito com dois mil entrevistados com 18 anos ou mais de todas as cinco regiões do país, com cotas de sexo, idade, localidade, controle de instrução e renda.

Dados sobre o endividamento

Mais da metade (51%) dos brasileiros se declaram endividados. Esse número chega a 63% no Norte, seguido do Nordeste (56%), Centro-Oeste (54%) e, praticamente empatados, Sudeste (48%) e Sul (47%).

Por outro lado, em todas as regiões é majoritária a parcela que acredita na diminuição do endividamento em 2023: 40% acreditam que estarão menos endividados; 36%, do mesmo jeito; e 20% mais endividados. 4% não souberam dizer ou não responderam.

“A perspectiva majoritária de menor endividamento ocorre em todas as regiões do país e provavelmente está associada aos sinais de otimismo na economia. Esse otimismo vem na esteira do recuo objetivo da inflação segundo o IPCA. Os resultados mostram queda na percepção sobre o aumento de preços nesse último bimestre. Além disso, houve crescimento do sentimento de que o país está melhor do que em 2022 e de que ainda irá melhorar até o final do ano”, afirma Marcela Montenegro, diretora executiva do Ipespe.

Ela lembra que o levantamento foi feito antes da aprovação da reforma tributária, o que pode impactar ainda mais, a partir de agora, os prognósticos positivos.

O mesmo entendimento tem o professor do Mackenzie, para quem o brasileiro normalmente demonstra ter um viés otimista em relação ao futuro em diversas pesquisas. “Dados objetivos sobre o PIB, desemprego, inflação, e da economia em geral vêm superando as expectativas pessimistas geradas por ruídos políticos provocados pelo próprio presidente. No final, o mercado está aprendendo a separar os ruídos do embate político e o da formulação e implementação das políticas econômicas, dado o avanço de reformas que vão na direção certa, como o arcabouço fiscal e a reforma tributária”, diz ele.

Segundo Cordenonssi, esse otimismo pode estar ligado às expectativas de se aumentar a renda ou conseguir um emprego e, para as pessoas mais vulneráveis que ganham o Bolsa Família, à percepção de um menor risco de não receber o benefício, gerador de menos incertezas do que o Auxílio Emergencial dado pelo governo anterior durante a pandemia.

“Além disso, na época da pesquisa, o governo já tinha lançado o programa Desenrola, melhorando a perspectiva daqueles que estão ou estavam inadimplentes e que agora podem ter uma chance de renegociar seus débitos em melhores condições”, complementa.

No entanto, embora a maioria da população esteja endividada, a maior parte das pessoas desconhece o programa Desenrola Brasil criado pelo governo federal para facilitar a renegociação de dívidas reduzindo os juros a serem pagos. O percentual dos que tomaram conhecimento sobre a iniciativa é maior no Sul e Sudeste (48%) e menor no Norte (41%), Nordeste e Centro-Oeste (ambos com 40%).

Porém, entre os endividados, é amplo o interesse pelo programa. A pretensão de participar do Desenrola chega a 71% no Centro-Oeste, caindo para 67% no Sudeste; 66% no Nordeste; 63%, Norte; e 56% no Sul.

“O conhecimento a respeito do programa já é expressivo (45% na média das regiões) demonstrando seu potencial de gerar interesse, mas ele pode e deve ser ampliado sobretudo entre os mais jovens e nos segmentos de menor escolaridade, onde prevalece a desinformação sobre ele. O potencial de adesão é demonstrado ainda pelo elevado percentual (65% na média) do público-alvo, com dívidas bancárias ou não bancárias, que declara a intenção de participar”, diz Montenegro.

Expectativas sobre a economia

O estudo revela ainda mais dados relativos às perspectivas da sociedade em relação à economia. Segundo a pesquisa:

  • O desemprego diminuirá para 39% do total dos entrevistados da amostra;
  • O acesso ao crédito aumentará (41%);
  • O poder de compra vai aumentar (37%);
  • A taxa de juros aumentará (48%);
  • A inflação e o custo de vida aumentarão (45%);
  • Os impostos vão aumentar (53%).

Em relação às prioridades das famílias, de Norte ao Sul do país, saúde, emprego e renda e educação ocupam os primeiros lugares nesse quesito.